segunda-feira, 20 de julho de 2015

Rudolf Bultmann: Vida e Obra


Rudolf Karl Bultmann nasceu em Wiefelstede (Oldenburg), na Alemanha, em 20 de agosto de 1884. Filho mais velho de Arthur Bultmann, pastor protestante da Igreja Luterana. Seus avôs paternos foram missionários na África e seu avô materno tinha sido pastor na pietista região sul da Alemanha (GRENZ, OLSON, 2003, p. 102). Bultmann cursou a escola primária em Rastede. O ginásio, em Oldenburg (1895-1903) foi colega do filósofo existencialista Karl Jaspers.[1] No liceu estudou a história da religião, distinguiu-se pelo estudo do grego e da história da literatura alemã (BULTMANN, 1964, p. 335).
Concluído o liceu, iniciou seus estudos teológicos na Universidade de Tübingen, em 1903. No ano seguinte, passou para a Universidade de Berlim e dois anos depois para a Universidade de Marburg. Foi aí que, em 1910, licenciou-se em Teologia, com a tese: O Estilo da Pregação Paulina e a Diatribe Cínico-Estóica, um tema sugerido a ele por Johannes Weiss. Dois anos mais tarde obteve a livre docência, com uma dissertação sobre a Exegese de Teodoro de Mopsuéstia, um tema proposto por Adolf Jülicher.

PENSADORES QUE EXERCERAM INFLUÊNCIA NA FORMAÇÃO INICIAL DE BULTMANN


Bultmann cresceu na famosa escola da Teologia Liberal Alemã[2] do século XIX: Seus mestres foram homens de clara fama liberal e de orientação histórico-crítica. Ele mesmo deixou a lista daqueles em relação aos quais sente-se particularmente devedor:
Em Tübingen, o historiador da Igreja Karl Müller (1842-1940). Em Berlim, o estudioso vétero-testamentário Hermann Gunkel (1862-1932): conhecido por sua contribuição para “crítica da forma”, e o estudo da tradição oral em textos bíblicos. E o grande historiador dos dogmas Adolf von Harnack (1851-1930): suas duas obras mais conhecidas são: “Manual de história do dogma”, em três volumes e a série de palestras “A essência do cristianismo”, texto clássico dateologia liberal. Harnack defendeu em sua obra principal História dos Dogmas, a evolução dos dogmas do cristianismo pela helenizacão progressiva da fé cristã primitiva.
Em Marburg, dois estudiosos do Novo Testamento; Adolf Jülicher (1857-1938): teorizava que Jesus não afirmou ser o Messias, mas que a igreja primitiva tinha reivindicado que era. Segundo esta teoria, o autor do evangelho de Marcos tinha inventado a ideia de “segredo messiânico”, segundo o qual Jesus tentou esconder sua identidade, e só revelou a alguns de seus discípulos. Johannes Weiss (1863-1914): conhecido por seu trabalho da crítica do Novo Testamento. Ele escreveu as primeiras interpretações escatológicas dos Evangelhos (1892) e, em seguida, estabeleceu os princípios da “crítica da forma”: análise das passagens bíblicas através de sua forma estrutural.
O teólogo sistemático Johann Wilhelm Herrmann (1846-1922), que era seguidor de Kant e Ritschl, é a mais significativa influência liberal no pensamento de Bultmann. Herrmann afirmava que a religião não pode ser totalmente assimilada pela ciência ou pela filosofia. Ela não pode ser reduzida a algo universalmente válido, mas está relacionada com a vida particular de cada indivíduo. “Herrmann critica duramente a adoção que o cristianismo fez da metafísica, confundindo religião e filosofia e se esquecendo do aspecto sui generis da religião” (PIEPER, 2003, p. 21). E o teólogo sistemático Johann Wilhelm Herrmann (1846-1922): influenciado por Kant e Ritschl, via Deus como o poder da bondade. “Jesus era visto como um homem exemplar. Mesmo que Jesus nunca existiu, de acordo com Herrmann” (Ibidem, p. 21), seu retrato tradicional ainda era válido. Seu livro “A Comunhão do Deus cristão” era visto como um dos destaques do século XIX.

Alguns Livros para conhecer Bultmann:

                              Demitologização
 Jesus Cristo e Mitologia
 Correspondência entre Bultmann e Heidegger









 Crer e Compreender


                                                       

                                       Jesus

                                   Milagre

                                     Cartas entre Barth e Bultmann

                                   Bultmann: Pensadores Modernos


 Teologia do Novo Testamento




[1]Karl Theodor Jaspers (1883-1969), psiquiatra e filosofo, teve forte influência na teologia moderna e na filosofia. Jaspers tentou descobrir um sistema filosófico inovador. Foi muitas vezes visto como um dos maiores expoentes do existencialismo na Alemanha, apesar de ele mesmo não aceitar este rótulo (BARAQUIM; LAFFITTE, 2007, p. 157).
[2] A teologia liberal encontrou seu método na filosofia kantiana, a inacessibilidade da esfera religiosa à razão pura e, ao mesmo tempo, a redução da religião aos limites da mera razão. “Com a teologia liberal, tem início, assim, um processo de secularização da religião, seguindo o itinerário filosófico ou o histórico-filológico (Scheleiermacher, Ritschl, vonHarnach). Trata-se de uma teologia que parte da força de superação das contradições (Hegel) para harmonizar fé e razão, revelação e razão, humanismo e cristianismo” (GIBELLINI, 2002, p. 148). 


Estilo de Normalizar Citação De Acordo com as Normas da ABNT para Trabalhos Acadêmicos.
RUBENS, David. RUDOLF BULTMANN: UMA APROXIMAÇÃO. http://biblicoteologico.blogspot.com.br/2014/11/rudolf-bultmann-uma-aproximacao.html. Acesso em: _____________.

Correspondência Bultmann, Günther Bornkamm, Paul Althaus, Karl Barth, Martin Heidegger

Já li as correspondências entre Bultmann e Heidegger e, entre Bultmann e Barth, pretendo ler este ano os livros que foram lançados recentemente: correspondências entre Bultmann e Günther Bornkamm e, entre Bultmann e Paul Althaus.
Estes livros são excelentes para uma melhor compreensão do pensamento de Rudolf Bultmann. Todos os bultmannianos deveriam ler, recomendo também a leitura aos críticos que ainda não leram Bultmann.


Rudolf Bultmann e Günther Bornkamm
Correspondência 1926-1976
Editor. Werner Zager

Nas correspondências entre Rudolf Bultmann e Günther Bornkamm questões centrais do Novo Testamento são discutidas: o entendimento da Última Ceia de Jesus, a importância do Jesus terreno para uma teologia do Novo Testamento, o problema hermenêutico da demitologização da proclamação do Novo Testamento. Além disso, o leitor é levado para o processo criativo da obra dos dois teólogos.
Bultmann e Bornkamm pertenciam a Igreja Confessante, mas, os dois teólogos sempre apresentaram uma posição teológica simples em relação ao poder totalitário do estado nazista, embora ambos os teólogos tenha contribuído em uma resistência política real – mas cada um à sua maneira - de forma consistente para a liberdade da teologia e da igreja: Bultmann como professor universitário e Bornkamm como docente e como pastor. Ambos foram ligados à Hans von Soden e os teólogos liberais de Marburg. Cujo o trabalho em teologia e na igreja, foi determinado pela coragem de pensar criticamente. Quanto à ligação com o evangelho, ambos os teólogos valorizavam altamente a verdade absoluta.
As correspondências são reveladoras e relevantes para entender a obra dos dois principais teólogos do Novo Testamento de todos os tempos.  
527 páginas
Editora: Mohr Siebeck; 1ª edição, dezembro de 2014.
Idioma: Alemão
ISBN-10: 3161517083
ISBN-13: 978-3161517082
Tamanho: 16,8 x 4 x 23,3


Rudolf Bultmann e Paul Althaus Correspondência 1929-1966 
Editor. Matthias Dreher; Gotthard Jasper

Os dois pesquisadores tratam de temas centrais da teologia luterana: antropologia, justificação, fé pascal, a relação da ressurreição de Jesus com a sua cruz e ressurreição dos crentes, demitologização e compreensão das Escrituras. Os dois teólogos nunca chegaram a um consenso, as correspondências não tinham este objetivo. Em vez disso, os discursos de ambos os teólogos aguçava ainda mais as oposição e a divergência. Matthias Dreher e Gotthard Jasper completar a edição da correspondência e com vários textos anexos, uma introdução histórica e um comentário teológico.
132 páginas
Editora: Mohr Siebeck; 1ª edição, abril de 2012
Idioma: Alemão
ISBN-10: 3161509811
ISBN-13: 978-3161509810
Formato: 16,3 x 1,7 x 24,6


Rudolf Bultmann e Martin Heidegger Correspondência 1925/1975
Editor. Eberhard Jüngel 

Em 1923, Martin Heidegger deixou seu cargo de professor na Universidade de Freiburg e aceitou o convite para lecionar em Marburg. Sua chegada marcou o encontro com Rudolf Bultmann marcando o prelúdio de um diálogo produtivo eminentemente singular. Correspondência entre Heidegger e Bultmann se estende por um período de mais de meio século. Em cartas, juntamente com questões de política da Universidade e assuntos pessoais, tendo de novo como destaque o problema fundamental da relação entre filosofia e teologia. A amizade entre os dois surge entre tensões e partidas. As correspondências revelam estilos de vida, fé e filosofia dos dois pensadores.
400 páginas
Editora: Herder Editorial; 1ª edição, de Fevereiro de 2013
Idioma: Espanhol
ISBN-10: 8425426510
ISBN-13: 978-8425426513
Formato: 16 x 23


Rudolf Bultmann e Karl Barth Cartas, 1922-1966
Editor. Bernd Jaspert

As cartas entre estes dois gigantes da teologia do século 20 escritas ao longo de quatro décadas produzil idéias excelentes para a teologia cristã.
Este livro contém  todas as cartas disponíveis trocadas por Karl Barth e Rudolf Bultmann durante um período de 44 anos (1922-1960).
206 páginas
Editora: T. & T.Clark Ltd; 1ª edição, Julho 1982
Idioma: Inglês
ISBN-10: 0567093344
ISBN-13: 978-0567093349

Dimensões: 22,9 x 15,5 x 1,8 cm


Estilo de Normalizar Citação De Acordo com as Normas da ABNT para Trabalhos Acadêmicos.
RUBENS, David. Rudolf Bultmann: correspondências; Günther Bornkamm; Paul Althaus; Martin Heidegger; Karl Barthhttp://biblicoteologico.blogspot.com.br/2015/01/rudolf-bultmann-correspondencias.html. Acesso em: _____________.

Museu bultmanniano


























Rudolf Bultmann: demitologização, melhor método interpretativo para compreensão da bíblia


O Novo Testamento relata diversas “histórias” que dizem respeito a tempos e lugares remotos e inacessíveis (como “no princípio” ou “no céu”), as quais envolviam a atuação de agentes e fatos sobrenaturais. Bultmann afirma que tais histórias possuem, na verdade, um significado existencial subjacente que pode ser captado e apropriado mediante um processo de interpretação adequado.
O Novo Testamento é cheio de mitos, o mais relevante desses mitos do NT é aquele de caráter escatológico, o qual defende o iminente fim do mundo, mediante uma intervenção direta de Deus que levaria ao juízo final e posteriores recompensa ou punição. Para Bultmann, esse “mito” e outros similares poderiam ser reinterpretados existencialmente.
Assim, no caso do mito escatológico, o reconhecimento de que a história não havia, de fato, chegado ao fim não necessariamente invalidava o mito: se interpretado existencialmente, o “mito” dizia respeito ao aqui e agora da existência humana – ao fato de que os seres humanos devem encarar a realidade de sua própria morte e que, assim, são forçados a tomar decisões existenciais. O “juízo final” em questão não envolve algum tipo de julgamento divino futuro, que ocorrerá com o fim do mundo, mas sim um julgamento de nós mesmos atual, que se fundamenta em nosso conhecimento sobre o que Deus fez em Cristo.
Bultmann defende que esse tipo de demitologização é precisamente o que podemos encontrar no quarto evangelho, escrito ao final do século I, quando as primeiras expectativas escatológicas da comunidade cristã primitiva se dissipavam.
O “juízo final” é interpretado por Bultmann como uma referência ao momento de crise existencial, quando seres humanos são confrontados com o kerygma de Deus para eles. A “escatologia realizada” do quarto evangelho surge do fato de que o escritor do evangelho havia percebido que a parúsia não é um evento futuro, mas sim algo que já aconteceu, no confronto entre o cristão e o querigma: Lá, o “agora” relativo à vinda do Revelador corresponde exatamente ao “agora” da proclamação da Palavra como fato histórico, o “agora” do presente, do momento. Esse “agora”, em que somos abordados em um momento específico, é o “agora” escatológico, pois nele faz-se a decisão entre vida e morte. Ele representa a hora que está vindo e, ao ser atingidos por ela, passa a ser “agora”. Portanto, não é verdade que a parúsia, aguardada pelos demais como um evento ocorrido no tempo, estivesse sendo nesse momento negada ou transformada por João em um processo interno da alma, em uma experiência. Ao contrário, João abre os olhos do leitor: a parúsia já aconteceu!
Assim, Bultmann considera que o quarto evangelho faz uma reinterpretação parcial do mito escatológico, em termos de seu significado para a existência humana. Cristo não é um fenômeno passado, mas, antes, o Verbo sempre presente de Deus que não expressa uma verdade genérica, mas sim uma proclamação concreta e dirigida a cada um de nós, que exige de nossa parte uma decisão existencial.

Para Bultmann, o processo escatológico tornou-se um evento integrante da história, e torna-se mais uma vez um evento integrante da proclamação cristã contemporânea.


Estilo de Normalizar Citação De Acordo com as Normas da ABNT para Trabalhos Acadêmicos.
RUBENS, David. Rudolf Bultmann: demitologização, melhor método interpretativo para compreensão da bíblia. http://rudolfbultmann.blogspot.com.br/2015/07/rudolf-bultmann-demitologizacao-melhor.html. Acesso em: _____________.
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