O Novo Testamento relata diversas “histórias”
que dizem respeito a tempos e lugares remotos e inacessíveis (como “no
princípio” ou “no céu”), as quais envolviam a atuação de agentes e fatos sobrenaturais.
Bultmann afirma que tais histórias possuem, na verdade, um significado existencial
subjacente que pode ser captado e apropriado mediante um processo de interpretação
adequado.
O Novo Testamento é cheio de mitos, o mais relevante desses mitos do NT é
aquele de caráter escatológico, o qual defende o iminente fim do mundo,
mediante uma intervenção direta de Deus que levaria ao juízo final e
posteriores recompensa ou punição. Para Bultmann, esse “mito” e outros
similares poderiam ser reinterpretados existencialmente.
Assim, no caso do mito escatológico, o reconhecimento de que a história
não havia, de fato, chegado ao fim não necessariamente invalidava o mito: se
interpretado existencialmente, o “mito” dizia respeito ao aqui e agora da
existência humana – ao fato de que os seres humanos devem encarar a realidade
de sua própria morte e que, assim, são forçados a tomar decisões existenciais.
O “juízo final” em questão não envolve algum tipo de julgamento divino futuro,
que ocorrerá com o fim do mundo, mas sim um julgamento de nós mesmos atual, que
se fundamenta em nosso conhecimento sobre o que Deus fez em Cristo.
Bultmann defende que esse tipo de demitologização é precisamente o que podemos
encontrar no quarto evangelho, escrito ao final do século I, quando as primeiras
expectativas escatológicas da comunidade cristã primitiva se dissipavam.
O “juízo final” é interpretado por Bultmann como uma referência ao
momento de crise existencial, quando seres humanos são confrontados com o kerygma
de Deus para eles. A “escatologia realizada” do quarto evangelho surge do fato
de que o escritor do evangelho havia percebido que a parúsia não é um evento
futuro, mas sim algo que já aconteceu, no confronto entre o cristão e o
querigma: Lá, o “agora” relativo à vinda do Revelador corresponde exatamente ao
“agora” da proclamação da Palavra como fato histórico, o “agora” do presente,
do momento. Esse “agora”, em que somos abordados em um momento específico, é o “agora”
escatológico, pois nele faz-se a decisão entre vida e morte. Ele representa a
hora que está vindo e, ao ser atingidos por ela, passa a ser “agora”. Portanto,
não é verdade que a parúsia, aguardada pelos demais como um evento ocorrido no
tempo, estivesse sendo nesse momento negada ou transformada por João em um processo
interno da alma, em uma experiência. Ao contrário, João abre os olhos do
leitor: a parúsia já aconteceu!
Assim, Bultmann considera que o quarto evangelho faz uma reinterpretação parcial
do mito escatológico, em termos de seu significado para a existência humana. Cristo
não é um fenômeno passado, mas, antes, o Verbo sempre presente de Deus que não
expressa uma verdade genérica, mas sim uma proclamação concreta e dirigida a
cada um de nós, que exige de nossa parte uma decisão existencial.
Para Bultmann, o processo escatológico tornou-se um evento integrante da
história, e torna-se mais uma vez um evento integrante da proclamação cristã
contemporânea.
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RUBENS, David. Rudolf Bultmann: demitologização, melhor método interpretativo para compreensão da bíblia. http://rudolfbultmann.blogspot.com.br/2015/07/rudolf-bultmann-demitologizacao-melhor.html. Acesso em: _____________.