domingo, 21 de abril de 2013

CARREIRA ACADÊMICA DE RUDOLF BULTMANN


A atividade profissional de Bultmann começou em Oldenburg em 1907, onde ensinou no ginásio. Em 1912, começou sua carreira acadêmica, inicialmente na qualidade de livre docente de exegese neotestamentária na Universidade de Marburg, neste período Bultmann publicou cinco artigos e oito resenhas de livros, tudo relacionado ao método histórico crítico do Novo Testamento. Em 1916 foi nomeado encarregado na Universidade de Wroclaw (Breslau), foi no período em que ensinava em Breslau que Bultmann escreveu a História da Tradição Sinótica. Nesse meio tempo, Bultmann casara-se com Helene Feldman (1920), tendo duas filhas[1] de seu feliz matrimônio. Em 1920, foi chamado a suceder o célebre biblista Wilhelm Bousset[2] na Universidade de Giessen, mas apenas um ano depois preferiu deixar essa universidade para retornar a Marburg, que ele sempre considerou a sua pátria acadêmica, a fim de assumir a cátedra de Novo Testamento e de História da Igreja Primitiva sucedendo o teólogo liberal Wilhelm Heitmüller. Em 1921 Bultmann publicou uma de suas obras mais significativas, História da Tradição Sinótica, na qual introduziu no âmbito da pesquisa neotestamentária o Método Histórico das Formas. Entre os colegas de Bultmann em Marburg havia Rudolf Otto (que sucedeu Wilhelm Hermann) e Martin Heidegger. Além disso, Karl Barth e Friedrich Gogarten também lecionaram em Marburg. Todos estes quatro exerceram influência na teologia de Bultmann. Neste período ele abandonou a orientação liberal na qual tinha crescido e se aliou a Karl Barth e ao movimento da teologia dialética.[3] Ainda que sua passagem por essa teologia tenha sido rápida, muitos de seus conceitos marcaram seu pensamento notoriamente antiliberal e antimodernista.
Bultmann justificou seu afastamento da teologia liberal alegando que o tema da teologia é Deus, e que a teologia liberal não lidou com Deus, mas com o ser humano. Mas a mudança de Bultmann para a teologia dialética não implicou no abandono total do liberalismo. O método histórico-crítico é evidente no trabalho histórico de Bultmann. Para ele, o método histórico-crítico se mostra como ferramenta útil na interpretação de textos históricos. Contudo, assim como pensava Hermann, Bultmann assevera que a fé cristã não deve se fundamentar nessa forma acadêmica do estudo da religião.
Frederico Pieper Pires comenta que em um texto de 1924, Bultmann tece críticas à teologia liberal, reconhece seus méritos e influência:

A teologia liberal possui na primazia do interesse histórico, o seu caráter distintivo, e neste campo, fez suas maiores contribuições. Essas contribuições não se limitaram ao esclarecimento do quadro histórico. Elas foram especialmente importantes para o desenvolvimento do senso crítico, isto é, para a liberdade e para a veracidade. Nós que viemos da teologia liberal nunca teríamos nos tornado teólogos e assim permanecido se não tivéssemos encontrado nessa teologia a busca persistente da verdade radical (PIEPER, 2003, p. 22).

Após se aposentar, em 1951, viajou aos Estados Unidos e fez aí inúmeras palestras neste país até sua morte, manteve intenso diálogo com vários críticos e discípulos. Bultmann morreu em 30 de Julho de 1976, aos 92 anos (BULTMANN, 1964, p. 337).

David Rubens



[1]Antje Bultmann (nascida em 27 de julho de 1918), primeira filha de Bultmann. Gesine Bultmann (nascida em 1 de julho de 1920), segunda filha de Bultmann.
[2]Wilhelm Bousset (1865-1920), Bousset era uma figura proeminente da Escola da História das Religiões. Seu trabalho mais conhecido envolveu estudos comparativos entre a Igreja Cristã e outras crenças religiosas, particularmente judaísmo helênico. Bousset demonstrou em seus escritos que o pensamento cristão foi profundamente influenciado pelas culturas vizinhas e sistemas de crenças.
[3] A teologia dialética, denunciou as tentativas realizadas pela teologia liberal de reduzir ao silêncio a Palavra de Deus. A teologia dialética, afirma que o homem só com as suas forças (a filosofia, a cultura, a religião) não pode alcançar Deus, já que existe uma infinita diferença qualitativa entre Deus e o homem. Principais nomes da teologia dialética: Rudolf Bultmann, Karl Barth, Emil Brunner, Friedrich Gogarten, Eduard Thurneysen.   
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